sábado, 28 de fevereiro de 2015

Reflexão # 39 - A Essência da Vida...

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Existe uma inteligência imensurável que opera muito para além daquilo que a própria ciência se esforça em qualificar, quantificar, caracterizar, descrever ou explicar. Uma inteligência que permite a própria mente ser dotada dessa capacidade de questionamento, busca, raciocínio lógico, entendimento intelectual e até mesmo entendimento do que se encontra além de si mesma.
Uma inteligência constatável no primeiro choro de um bebé quando vem ao mundo, na primeira procura do seio da mãe para mamar, na primeira manifestação de paz e tranquilidade quando aconchegado no colo cheiroso da sua mãe. Uma inteligência que permite, instintivamente, um ser sobreviver, procurar segurança e prazer.
Se analisarmos esta fase da existência podemos compreender como vimos indefesos, vulneráveis, completamente confiantes, entregues para a vida e para o tudo que a compõe. Ainda sem um intelecto desenvolvido poderemos comunicar, instintivamente, o que nos nutre e desnutre. Se avaliarmos podemos verificar como o amor, atenção, cuidado, calor humano nutre e como o oposto contribuiu para a desnutrição. Tal facto é provado pela ciência, por conta de x, y, z. Óptimo. Agora, é interessante debruçar-se sobre o que sustenta essa realidade capaz de ser comprovável pelas mais diversas variáveis. Ainda que não possa ser palpável, descrita como se de um objecto se tratasse é algo que está aí disponível para qualquer um de nós vislumbrar, compreender e divinamente se libertar da tamanha tirania da mente, que pela sua natureza é capaz do melhor e do pior. Nenhum assassino nasceu assassino, nenhum pedófilo nasceu pedófilo… cada um nasceu à luz de uma inteligência que nos conduz à procura do amor, da atenção, acolhimento que nos faz sobreviver. Como a nossa essência pode ser algo que não amor, luz? Se assim fosse não haveria vida… Quem nos rotula de bons e maus afinal? O que nos leva a crer que uns são merecedores do céu e outros do inferno? Que uns têm sorte, outros azar? Que fulano gosta ou não gosta de mim, vai ou não vai com a minha cara? Quem me leva a acreditar que o mundo conspira contra mim? Que a minha cultura, religião, país, grupo, etc, é melhor que outro? O que nos separa, divide? O que nos leva a destruir uns aos outros? O que nos leva a elogiar alguém porque cheio de luz e especial e a desconsiderar outro porque ignorante e avarento?
Todos nós nascemos à luz de uma mesma inteligência! Todos nós somos luz, amor, consciência, presença. Apenas uns encontram-se mais adormecidos que outros. Apenas uns mais emaranhados nas teias de uma mente egóica que outros.  Apenas uns perdidos na noite escura e outros a se encontrar na alvorada…
Não é utopia ou forma romântica de se ver a vida, a existência… essas constatações são fruto de uma mente que mente e resiste… doente de tanta dor, desespero, mágoa, sofrimento…
Uma mente que não quer partilhar o espelho com mais nada a não ser consigo mesma… que roda, rodopia em frente ao espelho dizendo “espelho meu, espelho meu existe alguém mais belo do que eu?”, uma mente que criou o seu próprio trono e reinado e que teme a sua dissolução. Uma mente escrava do prazer efémero apenas e só por desconhecer o prazer sempre presente e imutável. Uma mente que mendiga amor, reconhecimento, atenção apenas e só por desconhecer a fonte inesgotável dentro de cada um nós…
Uma mente que acredita no seu início e no seu fim…
Mas, é essa mesma mente que quando exausta se coloca em dúvida… questionamento, disponível para fazer uma espécie de inversão de marcha rumo ao sol, luz, vida, amor… disponível para compreender a força interna que lhe permite ser firme nos seus propósitos… que lhe permite a persistência, determinação de superar obstáculos e de fazer de cada novo dia uma contribuição para si mesma e para os demais…
A inteligência que me permite vir ao mundo, independente das condições físicas ou mentais é a mesma que me permite perder no meio da escuridão e achar na alvorada…
Portanto, está tudo na perfeita ordem…

Om
Sónia.
              

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Reflexão # 38 - Tiro ao Alvo...

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Quando, inteligentemente, decidimos fazer de nós alvo de atenção, análise, objecto de estudo, entendimento, descobriremos factos, fenómenos surpreendentes… inclusive que o mundo externo é uma mera pintura do que é reconhecido internamente por mim.
Então, várias são as telas produzidas… todas elas expressando e comunicando uma realidade observável… de facto somos os artistas da obra de arte chamada viver.
Porém, e lamentavelmente, nem sempre reconheço o mais belo e grandioso em mim tamanha é a absorção, encantamento, deslumbre por tudo aquilo que posso percepcionar instantaneamente, que posso tocar, obter, possuir, reter, materializar… óbvio que o resultado é toda a miséria existencial que podemos ler, ver e ouvir nos meios de comunicação ou até mesmo nas nossas relações conflituosas, dramáticas que ostentam a falsa noção de eu… o todo poderoso, o hipócrita que se disfarça de humorista não porque pragmático mas porque resistente à verdade, o cruel, a vitima e por aí vai…
Se por um momento eu ousar questionar e me responsabilizar por cada sentimento, emoção, pensamento, observando criticamente motivações, necessidades, darei um passo de entrada num novo mundo…

Om
Sónia.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Reflexão # 37 - O Professor e as Crianças...

                                                                  imagem retirada da internet


O que leva uma criança a revelar indisponibilidade para escutar o que um professor tem a dizer?
E porque a levamos a ficar disponível à base do autoritarismo, do “quem manda aqui sou eu”, faz o que te digo! Quando é que paramos para olhar as efectivas necessidades da criança acima de objectivos pré-estabelecidos, expectativas, padrões? Quando seremos capazes, de ao invés questionar o comportamento da criança, questionar o nosso? Quando seremos audazes para olhar a criança como um ser inteiro que apenas precisa de acolhimento, compreensão, tolerância para poder explorar o mundo ao seu ritmo?
Não será a sua indisponibilidade apenas um reflexo da nossa? Quantas vezes escutamos com toda a atenção e presença uma criança?
Debruçamo-nos sobre as nossas tendências, padrões? Observamos nossas atitudes?
Daremos nós importância a todo o conteúdo das suas palavras, gestos sem nos perdermos nos nossos pensamentos, expectativas e afazeres?
Perguntemos a nós mesmos, com toda a honestidade, sinceridade, profundidade, a forma como gostaríamos de ser tratados, ouvidos e atendidos! É exactamente a forma como uma criança gostaria…
A criança é como uma flor, delicada, sensível que se vai embrutecendo, crendo que é a forma de sobreviver e se defender num meio tão adverso.
Essa criança também habita em nós.
Anseia poder ser exactamente aquilo que é… delicada, sensível como uma flor… mas a vida e os tempos embruteceram-na tanto que hoje se olha incapaz, digna de tal feito! E é esta mesma criança, escondida por detrás dos nossos cabelos brancos e rugas, que ao ver a outra se embrutecer se revolta, indigna, etc. Na verdade o que ela quer mesmo é ver na outra o espelho daquilo que é… delicada, sensível como uma flor…
Mas as garras da ignorância são atrozes… deitando por terra a possibilidade de se viver com todo o esplendor…  
E assim vamos comunicando com as nossas crianças… deixando-as à margem de si mesmas, do imenso potencial, criatividade, amor, suavidade, delicadeza…
Todas estas palavras são fruto do que questiono e observo em mim… de uma mente limitada, imperfeita, condicionada para expressar o imenso que habita no peito…
Consciente e triste de tal facto, apenas resta descer dos pedestais e humildemente trabalhar aprendendo a parar, esperar e sobretudo rezar!  
Om
Sónia.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Reflexão # 36 - As Vozes do Ego...

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Estas palavras surgem de uma reflexão sobre ego, do como nos podemos equivocar quando o abordamos e do quão importante é reconhecê-lo. 
Várias vezes ouço, num tom de revolta e desconsideração, o individuo que aponta e julga outro individuo porque alimenta o seu ego. No meio de tanta emoção acabo por ver dois egos, onde um ego aponta o outro ego. Um valoriza algo que não encontra no outro e com facilidade se alimenta do facto, criando separação.
Outra coisa que já ouvi foi: “estou a matar o meu ego”. Ego não se mata e essas palavras são proferidas pelo desejo do próprio ego. Se assim fosse talvez nem sequer estivéssemos nesta jornada de busca e entendimento de quem sou. O ego tem o seu papel e o que podemos vislumbrar é uma espécie de purificação, uma qualificação para que a mente possa ver além de si mesma. 
Então, toda a vez que uma voz interior condene, aprove, desaprove, julgue, avalie fazendo-me crer que o outro é desadequado, diferente, separado de mim, saibamos que é função do ego. Não há nada de errado contando que não me identifique com tal e tome as suas dores. Inclusive esse mecanismo serve para me posicionar, dinamizar. Que o use a favor de um reconhecimento e entendimento profundo de quem sou, imutável, sempre presente e não separado do todo.  


Há uma voz dentro de nós que aponta, julga, avalia, separa, determina…
Ela assume diversos tons, ritmos, melodias…
E conduz-nos por entre variadíssimas danças…
Umas com o dom de nos libertar outras com o dom de nos avassalar…
Se uso essa voz para me ver dançando, cônscio de que não sou dança nem dançarino, contribuirei para uma alquimia mental e rejúbilo…
Eu, o outro, a dança, o dançarino, dançando, sou…
 Se a uso crente que sou dança, dançarino dançando, contribuirei para me colocar à mercê…
Do prazer, desprazer…
Do certo, errado…
Do mais, menos…
Bom, mau…
Do sofrimento…
Eu, o outro, a dança, o dançarino, dançando, separados, desintegrados… 

(Sónia Andrade)

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Reflexão # 35 - A Complexidade de Savasana, a postura do cadáver


Quando no final de uma prática de yoga nos colocamos em savasana, também conhecida pela postura do cadáver, deveríamos executá-la com toda a atenção e com o mesmo empenho, dedicação, determinação que colocamos em qualquer outro ásana complexo e altamente elaborado. Na verdade, o propósito da sua complexidade e elaboração está muito além do que os nossos olhos são capazes de ver através de fotos, vídeos e etc. Isso é meramente plástico que pela sua superficialidade não tem a capacidade de nos contentar, sustentar emocional e mentalmente. Poderemos inicialmente nos motivar pela euforia, aparente desejo de querer chegar a um determinado nível e assim poder se ver capaz, realizado, poderoso, reconhecido, etc, mas logo, logo isso se desvanecerá entre frustrações, buscas insaciáveis, desilusões, sentimento permanente de carência. O ásana por si só não tem a capacidade de resolver o problema fundamental do ser humano, a ignorância relativamente à sua natureza essencial. Então, o que se pretende com o ásana ou outra disciplina qualquer é uma atitude favorável a um reconhecimento profundo de si. De facto, posso constatar que é essa atitude que constrói uma postura equilibrada, firme, consciente, confortável à qual podemos chamar ásana, como nos diz o sutra de Patanjali.       
Talvez o savasana seja a postura mais desafiante de se executar… aparentemente é de grande simplicidade deitar-se imóvel, permanecer alguns minutos nessa postura e relaxar profundamente, mas a verdade, e se prestarmos bastante atenção, estamos longe de o conseguir… o corpo até pode estar estendido no chão e ao olhar dizer “estou em savasana” mas isso é meramente plástico…
Permitir-se ficar em savasana, consciente e profundamente relaxado requer observação, aceitação, entrega, confiança. É necessário criar um espaço interno para que olhe e abrace as minhas emoções, os meus pensamentos sem condenar, avaliar ou reprimir. Apreciar como vão e vêem sem nunca comprometer o silêncio e a paz que os amparam. Ficar frente a frente com resistências, medos e acomodá-los.
O corpo é uma excelente ferramenta para constatar essa realidade interna. Podemos perceber quantas tensões acumulamos no peito, costas, rosto, crânio. Como é difícil permanecer observador do ar que entra e sai das narinas naturalmente, sem exercer um controlo, como é difícil nos desapropriarmos do corpo, como nos contemos na manifestação de emoções, sentimentos, pensamentos, como fugimos desse encontro e nos perdemos em estórias, fantasias.  
A todo o momento o corpo comunica e expressa a nossa inquietação, a dor de um peito que se fechou, a exaustão de aparentes pensamentos incessantes e o medo… o medo de confiar, o medo de se entregar e doar… o medo de Ser.  
Então, que possamos estar presentes e alertas em cada savasana e que desta forma possa contribuir no nosso processo de aprendizagem, reconhecimento e descoberta.  

Om
Sónia



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Reflexão # 34 - Ouvir, Estudar e Aprender Vedanta...

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Vedanta é o nome dado ás Upanishads que compõem a parte final dos Vedas, as quais revelam o problema fundamental do ser humano e a sua natureza essencial. Para a compreensão e vislumbre da realidade que nos aponta é importante expor-se a um processo, a uma tradição que nos guia e conduz para um espaço além da mente, através da mente e onde, com clareza e discernimento, nos podemos ver livres, inteiros, plenos e felizes. 
Para tanto é importante perceber que estudar vedanta não tem como propósito assimilar um conhecimento como tantos outros. Usando a afirmação do filósofo e ensaísta Agostinho da Silva "Acreditar num Deus provado seria tão relevante como acreditar na tabuada". De facto quando ouvimos vedanta percebemos a natureza de Deus, que é a natureza de todos nós e que efectivamente não é uma crença e sim uma realidade constatável, possível de ser vislumbrada além palavras e descrições, as quais terão apenas como função guiar o olhar do individuo numa determinada direcção, descrevendo o que não somos para que “despidos” e com a mesma pureza de uma criança inocente, possamos nos questionar “então o que sou?”. 
Aqui chegados e debruçando-se nas palavras sábias, profundas, de grande beleza e sensibilidade contidas nas obras, nos textos, podemos ser abençoados com a resposta. 
Então, quando decidimos engrenar nesta viagem é importante ficar claro que não é objectivo primordial assimilar novos conceitos, memorizar novas palavras, definir performances e ficar meramente grande conhecedor de um método, disciplinas, etc. Como diz o meu professor “Vedanta é para se ouvir com o coração”.
Cada palavra deve ressoar nas profundezas e trazer à consciência o que é inconsciente. Para tanto será necessário doses de coragem, determinação, firmeza, empenho para se olhar com verdade, honestidade. E isso, isso certamente não trará os sorrisos mais rasgados… 
Em todo o caso valerá a pena. 
Cada rasgo de dor e cada lágrima contribuirá para um coração que se abre, liberta, respira vida e luz! Para uma mente que se aquieta, foca e aprecia… a vida, o momento, a criação, a obra, o desejo, o fluxo de ir, vir, dar, receber… 
Nada quererei possuir nas minhas mãos… 
Nada ambicionarei ter sob meu poder… 
Não mais quererei o mundo a meus pés mas sim os meus pés no mundo… 

Om
Sónia.


sábado, 7 de fevereiro de 2015

Reflexão # 33 - "Mundo" tende para infinito...

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Quando olho tudo ao meu redor observo uma infinidade de objectos a serem conhecidos, uma infinidade de possibilidades, conhecimentos, experiências, sensações… um mundo infindável para se explorar, reconhecer, compreender, entender…
Essa é a beleza de ser um humano com características pensantes, cognitivas, emotivas que o levam a percepcionar-se e ao meio que o envolve.
Se este facto é digno de grandes criações também é o responsável de lamentáveis destruições e da desunião.
A inabilidade de reconhecer quem sou além de tudo aquilo que faz de mim um humano, dá forma às desesperadas tentativas de ser alguém, às desesperadas tentativas de arranjar um sentido para a vida, um lugar e papel no mundo. Com imensa facilidade e subtileza nos emaranhamos em buscas insaciáveis, em objectivos, metas atingir, sonhos a concretizar, mundos ocultos a descobrir e por aí vai… em direcção ao infinito…
É certo que nada de errado existe com tal constatação… faz parte de uma ordem, inteligência muito além da nossa capacidade intelectual, que pode ser vislumbrada por reconhecimento e compreensão. Em todo o caso é importante entender como todas essas coisas têm o poder de me desintegrar ao invés de integrar, como essas coisas têm o poder de me afastar de pessoas ao invés de unir. E quando falo em afastar não falo em ficar longe mas sim em permitir envolvimento com o pensamento de que o outro é diferente de mim, que o outro contamina o meu espaço de paz, boa energia, etc. Escolher com quem conviver e se relacionar é natural e até o caõ, o gato o fazem. O ser humano é dotado de livre arbítrio. Agora fantasiar o outro de alguém mais ou menos especial, mais ou menos importante, bom, mau é mera projecção mental. E é precisamente aí que reside o condicionamento, a limitação.
Então, efectivamente, torna-se necessário compreender quem sou, compreender o problema fundamental para que livre e de coração aberto possa abraçar o mundo com tudo aquilo que o compõe, para que possa sonhar, experimentar, conhecer, explorar com plena consciência, presença e ainda que ora rindo, ora chorando, ora triste, ora alegre, com uma paz inabalável.
Deitarei por terra as armaduras de ferro… não mais precisarei de armas, duelos, batalhas nem tão pouco de castelos ou muralhas… 
Om
Sónia.