quarta-feira, 17 de junho de 2015

Estudar Vedanta e os Valores...


Para realizar qualquer estudo que me permita assimilar um conhecimento, seja matemática, espanhol, filosofia é importante conduzir a minha mente a um determinado nível de concentração, aquietamento que a permita entender logicamente factores, variáveis, conteúdos. Por essa razão é tão comum verificar estudantes que se isolam nas suas casas para estudar, mesmo que às vésperas de exames e provas orais. Nesse período de tempo, e na proporção do quanto fui capaz de me concentrar, raciocinar, entender e memorizar, assimilei um conhecimento que me aprovará ou não e me qualificará como detentor de conhecimento de uma determinada matéria.
Quando iniciamos um estudo de vedanta é comum que esse padrão nos acompanhe. É o que a mente reconhece, fruto de uma educação, de princípios e valores incutidos por uma sociedade de “fast food”. Falando na primeira pessoa, e condicionada pelo meu tipo de mente, facilmente me impressionava com a quantidade de conhecimento que um professor tinha, quantas palavras sabia em sânscrito, quantos mantras, quantos rituais, quantos ásanas. Fantasiava um perfil de professor assim como o conhecimento. Procurava o reconhecido e mergulhava numa tentativa meio desesperada de absorver todas aquelas coisas que supostamente me trariam o conhecimento e fariam de mim um professor capaz. Mas, não funcionou… como poderia estar a minha mente disponível para tudo aquilo se dentro do meu peito reinava o caos? E mais, como poderia eu sentir-me motivada para aprender tudo aquilo? Parecia que o desejo do meu coração em encontrar paz era superior ao desejo de saber todas as coisas, ser reconhecido do tal que é detentor de conhecimento porque domina muito…
Parecia que aqueles trilhos do yoga não eram muito diferentes dos de outrora… como se eles apenas estivessem disfarçados por novas práticas, novos hábitos, escolhas.
Começara então a perceber que teria de haver algo mais. Certamente haveria forma de me conectar com aquelas palavras que lera nos livros e até mesmo aquelas que ouvira de um ou outro professor. Elas eram músicas para os meus ouvidos. Por instantes o meu peito ganhava um fôlego de esperança. Mas porque me pareciam tão distantes e inalcançáveis? Este episódio do meu processo trouxe até mim o entendimento da importância de satya, da verdade. O que me move em direcção ao estudo de vedanta? O que pretendo efectivamente? “Fast food” que alimenta o desejo fugaz da mente em se apropriar de nobre e grandioso acervo, ou alimento que nutre a fome do meu coração em se livrar de tanta amarra, de tanta arrogância e pretensão?
Depois de me encarar olhos nos olhos, sem rodeios e paninhos quentes outros valores se reflectiram essenciais. A capacidade de confiar, de se conectar com a verdade que é desvendada em cada palavra contida nos textos escutados. A capacidade de se entregar a uma tradição de ensinamento e à pessoa que assume o papel de professor. Não se trata de dizer apenas que confio ou que me entrego… isso é pouco e a qualquer momento estarei a tirar as garras de fora, a engendrar mil e uma formas de me escapar, de fugir, de me defender…
Essa confiança e entrega, reconhece-se no coração… como se visse no do outro o meu…
Depois de tal estabelecido urge a necessidade de reconhecer outros… como a coragem, a determinação, a firmeza, persistência e resiliência.
Desmascarar-se, despir-se de tanto adorno e fantasia é doloroso…
Caminhar em direcção ao reconhecimento do mais puro, natural, simples em si, traz consigo muita aflição… como se voltasse no tempo para me sentir, para me ver e voltar a viver a mesma dor… só assim poderei perceber o meu sofrimento, o meu problema existencial e quem sou além de tudo isso. O reconhecimento da nossa criança interior, o papel da família, o papel da mãe, do pai. Este entendimento tem tanto de libertador como de triste. Portanto preciso estar certa ao que me proponho, confiante e entregue para não bacilar e correr a sete pés, e corajosamente resiliente para chegar ao final deste grande enredo.   
Vedantanão é um conhecimento igual a todos os outros que nos acostumámos a absorver. O seu processo é peculiar e exige de cada um de nós o uso dos valores mais fundamentais e essenciais que são causa da criação. Satya, sraddha, virya não se criam…reconhecem-se no âmago do nosso coração, como se pertencessem a uma inteligência, a uma ordem que nos conduz nesta busca humana.
Posso exercitar a minha mente e torna-la hábil a cultiva-los, para que por fim os possa reconhecer como sempre presentes e parte integrante de mim e do todo.
 Om

Sónia.

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