domingo, 26 de julho de 2015

Mente, a contadora de estórias...

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A mente é uma contadora de estórias a avivar memórias…

Posso sentar tal qual uma criança, escutar e apreciar…
Posso viajar pela trama…
Sentir as personagens…
Saborear seus prazeres e desejos...
Vestir seus adornos e fantasias…
Viver suas tristezas e alegrias…

Posso emprestar este corpo à experiência…
Descobrir quão infinita, diversificada, espantosa, entusiasta, apaixonante, profunda, dolorosa e cruel, pode ser…

E no final…
No final, abrirei meus olhos…
Esboçarei um sorriso e me encontrarei…
Livre…
Livre do enredo… sem estória, nem memória…
Sem adorno e fantasia…
Sem necessidade de magia…

E assim como a criança naturalmente curiosa, cheia de vida e alegria, permanecerei sentada…
Deslumbrada…
Ouvindo, viajando, experienciando o que aqui e agora me está a ser contado…
Certa que não sou conto nem fantasia…
Que não sou trama nem magia…
Mas presença contida nesta poesia…

Sónia

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pensamentos Soltos # 45

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Entender que a natureza do Eu real e verdadeiro está além deste corpo, desta mente, destas emoções e sentimentos, deste vazio existencial, não significa negligenciar algum deles…
Pelo contrário, um senso de responsabilidade, amorosidade e compaixão, estará presente em cada acção, gesto, decisão…
Estarei hábil e consciente para acolher a minha individualidade assim como a do outro. Sem pretensão de querer me tornar alguma coisa, adquirir, possuir em prol de felicidade e realização. Humildemente e de coração aberto estarei pronto para conhecer, entender, compreender, largar, decidir, escolher em harmonia com um todo.
Estarei pronto para abraçar com toda a doçura uma mente que esperneia até ao momento de apreciar aquele doce abraço e corajosamente olhar com objectividade e sensibilidade…

Om
Sónia.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mergulhado Num Poço de Água sem Fundo...

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Quando a mente começa a ser objecto de conhecimento ao invés de sofrimento iniciamos um processo de grandes revelações e simultaneamente de libertação.
Emaranhados em pensamentos e assumindo como nossa verdade a estória e vivência de infinitos personagens, galgamos infinitas estradas que nos levam ao mesmo lugar de sempre, onde tudo parece pouco e insuficiente para me satisfazer, onde tudo parece efémero, fugaz e transitório. De facto é essa a natureza dos objectos e nada de errado há nisso. Objectos e personagens são meras formas e expressão do que é absoluto, imutável e eterno. O problema é a minha percepção de Eu, a identificação com aquilo que é naturalmente mutável, transitório, variável, fugaz. Como se houvesse um erro de cognição.
Completamente presos numa teia, alimentamos a mente com tudo aquilo que cada personagem mais gosta. Ora um drama, ora um terror, ora um romance, ora uma aventura, ora um suspense, ora uma erotização e por aí vai… infinitos filmes e géneros, para infinitos personagens, para infinitas obras…
Mergulhamos num grande poço de água sem fundo querendo a todo o momento respirar para sobreviver… mas se o poço de água é sem fundo e se nele estou mergulhada, como posso respirar? Só se isso for um sonho e eu reconhecer que não sou o sonho. E assim eu vejo o poço, eu vejo a água, eu vejo quanto mergulho, como mergulho, respirando, vivendo porque em nenhum momento me identifico com o sonho.
Por vezes somos avassalados por fortes emoções que parecem nos tirar do centro. Como se a todo o momento desejássemos conectar-se ao melhor que vibra no peito mas impedidos por uma ignorância que nos rouba a doçura, delicadeza, espontaneidade, paz e que se manifesta em arrogância, orgulho, raiva, revolta. A mente entra em cena, os personagens aliciados e a trama começa. Tudo em ordem, ela cumpre o seu papel. Assim como as emoções…  que apenas apontam para o poço de água, que é sem fundo e onde posso aprender a nadar com uma mente que amadureceu.
Estados de tristeza, alegria, euforia vão e vêem… se nos atentarmos a observar, podemos entender que ela persiste na exacta proporção do que alimento na mente. Se por momentos eu fechar os olhos, respirar profundamente e conectar-me a mim mesma, a tristeza será neutralizada. Se por momentos colocar uma música e dançar ela será transmutada numa acção prazerosa, de expressão e criação. O mesmo se passa com a alegria e a euforia. Se eu alimentar uma euforia permanente porque consegui isto, fiz aquilo, vou ali ou vim dali, o corpo vai exaurir, a mente explodir… se alimento uma alegria constante e permanente, vou fechar-me numa ilusão, numa espécie de anestesia que escamoteia a que é natural e espontânea e que se manifesta, inclusive, nos momentos de dor e tristeza.  
Então, essa mente só mente porque fechada em si mesma, tida como o eu absoluto. Quando observamos distantemente, discernindo os seus movimentos tendemos a criar um natural carinho, atenção, acolhimento e cuidado por ela.  Como se chegasse à conclusão de como tenho sido negligente, deixando-a aquém do seu potencial enquanto ferramenta que dá forma ao amor, compaixão, felicidade, plenitude, deixando-a aquém da sua capacidade de poder expressar, de poder criar, realizar, comunicar.
Om
Sónia.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O Grande Amor da Vida?

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Nascer nesta forma humana é herdar um corpo que sente, comunica, expressa, adoece, envelhece, nasce e morre… é herdar uma mente que pensa, que cria, que constrói, destrói, fantasia… é herdar a capacidade de sentir emoções que trazem a possibilidade de desejar conhecer, fazer, saber, aprender, descobrir, reconhecer. Apreciar o que nos compõe é como sentar numa plateia e ouvir uma orquestra sinfónica, sabiamente guiada por um maestro que coordena todo um grupo musical a fim de proporcionar unidade, coesão e harmonia. O resultado é uma bela melodia onde cada um contribui com o seu papel.
Olhando para mim, olhando para o tudo que me rodeia vejo o quanto padecemos de amor. Desde tenra idade que o procuramos através dos olhos de um outro. Primeiro através da mãe, do pai e à medida que vamos conhecendo o mundo, através de amigos, professores, colegas. Ignorando que todas as relações e experiencias apenas são o espelho, os olhos do coração, desejamos possuir, ter nas nossas mãos o objecto que naquele momento nos faz reconhecer algo "danado" de bom que vibra dentro, que enche um sorriso de alegria, que faz pular o coração, escrever e compor uma musica, sentir-se bela, recitar um poema, brincar e explorar tal qual duas crianças. Tudo o que se apresenta diante dos olhos é percepcionado como fonte de felicidade, amor, alegria, bem-estar. O problema começa quando esses objectos deixam de representar fonte de felicidade e inicio um processo de escolha ou rejeição mediante o que considere certo ou errado, bom ou mau, agradável ou desagradável, prazeroso ou não. Normalmente essas decisões caminham de mãos dadas com uma ignorância fundamental que me empurra para a responsabilização do mundo e pessoas pela minha insatisfação, desprazer, carência e necessidade. Passamos a maior parte dos dias da nossa vida numa busca incessante pelo grande amor, pela reunião de todas as condições que aparentemente saciam a necessidade por segurança, protecção, reconhecimento. Colocados à mercê de uma ilusão que tem por base um fluxo, um processo natural e dinâmico existencial, sofremos amargamente!
Posicionamo-nos como vítimas da própria vida fazendo dela o calvário e o suplício. De facto e avaliando as nossas acções, decisões parece que é maior o desejo de carregar uma cruz do que fazer dela instrumento de obra e criação.
É bem verdade que para tal feito, urge a necessidade de coragem, de força, entrega. Urge a necessidade de amar e acolher uma mente que esperneia como uma criança a quem não foi dado um pedaço de chocolate apenas e só porque ignora que por detrás daquele acto está a natural necessidade de cuidar e proteger. Urge a necessidade de se ver amor por si, em si.
Ao longo da vida muitas serão as vezes que um menino ou menina se aproximará para brincar de ser criança, disfarçados em cabelos brancos, rugas, desejos e fantasias. Muitas serão as vezes que o coração irá reconhecer tamanha empatia, tamanha vontade de estar ao lado, de dividir, de explorar, de dançar, amar… umas vezes vamos chamar de paixão, outras de grande amor. O nome pouco importará diante do intenso desejo de dar forma e intenção ao jogo. Nada de errado há com jogo ou jogadores, contando que se tenha clareza e discernimento para saber e entender que jogos vão e vêem, que estão aí para servirem de instrumento a algo bem maior que todos nós, e que efectivamente, jamais serão responsáveis por me oferecer e dar o grande amor da vida, aquele que nos deixa repousar em paz, no silêncio, nas palavras, nas lágrimas, nos sorrisos, no trabalho, na diversão, no prazer e desprazer, no bom ou no mau, no agradável ou desagradável…
Constatar tal realidade e verdade traz consigo dor e tristeza, traz consigo o reconhecimento da impotência de cada um de nós, o reconhecimento de que nada controlamos, que caímos e levantamos apenas e só por amor, que a todo o momento procuramos aliviar um vazio fundamental para que em prantos e rendidos possamos descobrir graça divina.  
Om
Sónia.