quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mergulhado Num Poço de Água sem Fundo...

imagem retirada da internet

Quando a mente começa a ser objecto de conhecimento ao invés de sofrimento iniciamos um processo de grandes revelações e simultaneamente de libertação.
Emaranhados em pensamentos e assumindo como nossa verdade a estória e vivência de infinitos personagens, galgamos infinitas estradas que nos levam ao mesmo lugar de sempre, onde tudo parece pouco e insuficiente para me satisfazer, onde tudo parece efémero, fugaz e transitório. De facto é essa a natureza dos objectos e nada de errado há nisso. Objectos e personagens são meras formas e expressão do que é absoluto, imutável e eterno. O problema é a minha percepção de Eu, a identificação com aquilo que é naturalmente mutável, transitório, variável, fugaz. Como se houvesse um erro de cognição.
Completamente presos numa teia, alimentamos a mente com tudo aquilo que cada personagem mais gosta. Ora um drama, ora um terror, ora um romance, ora uma aventura, ora um suspense, ora uma erotização e por aí vai… infinitos filmes e géneros, para infinitos personagens, para infinitas obras…
Mergulhamos num grande poço de água sem fundo querendo a todo o momento respirar para sobreviver… mas se o poço de água é sem fundo e se nele estou mergulhada, como posso respirar? Só se isso for um sonho e eu reconhecer que não sou o sonho. E assim eu vejo o poço, eu vejo a água, eu vejo quanto mergulho, como mergulho, respirando, vivendo porque em nenhum momento me identifico com o sonho.
Por vezes somos avassalados por fortes emoções que parecem nos tirar do centro. Como se a todo o momento desejássemos conectar-se ao melhor que vibra no peito mas impedidos por uma ignorância que nos rouba a doçura, delicadeza, espontaneidade, paz e que se manifesta em arrogância, orgulho, raiva, revolta. A mente entra em cena, os personagens aliciados e a trama começa. Tudo em ordem, ela cumpre o seu papel. Assim como as emoções…  que apenas apontam para o poço de água, que é sem fundo e onde posso aprender a nadar com uma mente que amadureceu.
Estados de tristeza, alegria, euforia vão e vêem… se nos atentarmos a observar, podemos entender que ela persiste na exacta proporção do que alimento na mente. Se por momentos eu fechar os olhos, respirar profundamente e conectar-me a mim mesma, a tristeza será neutralizada. Se por momentos colocar uma música e dançar ela será transmutada numa acção prazerosa, de expressão e criação. O mesmo se passa com a alegria e a euforia. Se eu alimentar uma euforia permanente porque consegui isto, fiz aquilo, vou ali ou vim dali, o corpo vai exaurir, a mente explodir… se alimento uma alegria constante e permanente, vou fechar-me numa ilusão, numa espécie de anestesia que escamoteia a que é natural e espontânea e que se manifesta, inclusive, nos momentos de dor e tristeza.  
Então, essa mente só mente porque fechada em si mesma, tida como o eu absoluto. Quando observamos distantemente, discernindo os seus movimentos tendemos a criar um natural carinho, atenção, acolhimento e cuidado por ela.  Como se chegasse à conclusão de como tenho sido negligente, deixando-a aquém do seu potencial enquanto ferramenta que dá forma ao amor, compaixão, felicidade, plenitude, deixando-a aquém da sua capacidade de poder expressar, de poder criar, realizar, comunicar.
Om
Sónia.

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