segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Fala menina...

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Não tem história bem ou mal fadada…
Não tem individuo ou família mais ou menos afortunada…
E os sonhos, não são tudo ou nada…

A vida não é uma constante desgarrada…
Nem o fado uma eterna canção amargurada…
E o silêncio, uma palavra contida ou desprezada…

Em nós um tudo disfarçado de nada…
Que dança debaixo de chuva dourada…
E que solta a pérola enclausurada…

Deixai bater livre o coração…
Ao ritmo da pura emoção…
Sem temer o temer da desilusão…
E até mesmo da solidão…

Deixai os olhos chorarem…
Os corpos bailarem…
E as bocas sorrirem…

Não tem o que ganhar ou perder…
Apenas um Universo por conhecer…

(Sónia Andrade)





sábado, 3 de dezembro de 2016

Reflexão # 75 - O Valor De Ter Um Corpo...

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Corpo não é um mero esqueleto composto por ossos, músculos, carne que assume uma determinada forma...
Tampouco um instrumento a serviço de uma espécie de tirania em prol de uma aparente beleza, escravo de conceitos, massificação e aparente inclusão social...
Corpo é um organismo vivo, supra inteligente, capaz de nos confidenciar dons, talentos, potencial divino e sagrado...
Um ser dinâmico que nos rejubila de prazer, alegria, amor...
Uma prosa livre, autêntica...
Uma declamação poética num movimento circular e ascendente...
Deixai-o sair da clausura, da ignorância, da escravidão, do desprezo, da escuridão...
Deixai-o bailar sem pudor...
Deixai-o aberto para reconhecer a dor...
Pegai-o pela mão e conceda-lhe a dança do coração...
Presente e atento para compor uma canção...
Seja cada toque, cada passo, cada troca, cada caricia, cada abraço e entrelaço,..
A expressão consciente do amor que nutre...
Da paixão que queima brandamente...
E da inteligência divina que nunca está ausente...

HarihOm
Sónia A.   

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Pensamentos Soltos # 81

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Se um dia olhar no espelho e apreciar cada cicatriz do rosto, do corpo,
Cada cabelo que branqueou, quebrou ou caiu,
O ventre ou o busto que ao amor serviu,
Com o encanto, doçura de quem contempla a beleza de uma flor…
Saberei que abri os braços, o peito para aconchegar qualquer dor…

Se um dia me apresentar nua, despedida para a imperfeição contar, mostrar, sem tampouco me incomodar…
Saberei que Sou, Estou, Presente, para verdadeiramente desfrutar…

Se um dia bastar a simplicidade do respirar,
A sabedoria de silenciar,
A pureza de se doar,
Sem a pressão de especial, fantástico se tornar…
Saberei que me estou a conquistar,
Devagarinho a me apaixonar,
Para profundamente poder amar…

Se um dia ousar escutar o profundo vibrar do coração…
Saberei que estou pronto para a desilusão…

Se um dia apreciar a leveza do pouco para me adornar, 
Embelezar sem tampouco me desesperar…
Saberei que encontro uma deusa a reverenciar…

(Sónia Andrade)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Pensamentos Soltos # 80


Por vezes o silêncio é a palavra mais adequada e oportuna...
Aprender a fazê-lo uma arte...
Aprender a acolhê-lo sabedoria...

(Sónia Andrade) 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Reflexão # 74 - O Caminho é Caminhar...


Ao longo deste curto caminho pelos trilhos do yoga, comprometida em ver o emaranhado que é a mente, como é ardilosa, manipuladora, dominadora, criadora, pacificadora ou destruidora, percebo como existe uma maestria em relacionar-se com ela e como isso implica, necessariamente, caminhar na direção do reconhecimento de algo que é auto evidente, suscetível de ser percebido pelo ser humano, assim ele ouse e deseje desconstruir o gigante castelo de areia que cria a todo o momento.
Ficar próximo da sua essência não significa matar um ego, tampouco afirmar e autoafirmar que é desprovido dele. O acto de o fazer já revela a sua existência, portanto, não tem sequer um sentido lógico. Ficar perto da sua essência também não significa adotar a suposta postura exemplar, conveniente ou politicamente correcta e muito menos, a passividade de quem tudo tolera, suporta, acomoda. Isso, podemos apenas chamar de burrice, autoflagelação, desrespeito pela individualidade, personalidade, identidade de cada um.
Ficar próximo da sua essência é um passo contínuo, infinito, ritmado, leve, doce e provido de toda a delicadeza, sensibilidade na hora de entrar numa casa que é sagrada, limpa, luminosa e amorosa.
A vida com todas as suas experiências é o cenário perfeito, oferecido divinamente para ousar trilhar o caminho de todos os caminhos, o objectivo de todos os objectivos, o sonho de todos os sonhos, o amor de todos os amores, que é o reconhecimento de quem sou, o que faço aqui, de onde vim, para onde vou. A percepção dessa realidade, verdade pode estar longe do nosso entendimento mas nunca separada de todos os nossos desejos… ela é a razão de todos eles…
A inteligência perfeita na forma de forças opostas que conduzem, alinham, centram e purificam, encarregar-se-á de nos ir confidenciando através de dor, sofrimento, adversidades, alegrias, tristezas, mágoas e por aí adiante.
Haverá um tempo onde o cansaço de buscar no mundo lá fora baterá à porta. Seguro e firme desejarei ir ao encontro da razão de todos os meus desejos…
Focado nesse intento, alinhando internamente reais e verdadeiros propósitos na direcção de mim mesmo, purificarei em cada inspiração e expiração o coração. O mundo lá fora será um mero reflexo do que me habita, do que vejo, do que sinto. O mundo lá fora deixará de ser o bicho papão, o pódio de todas as minhas realizações ou a poltrona de todas as minhas insatisfações, indecisões, para ser a minha ferramenta de trabalho, observação e maturidade.
Pouco a pouco aprenderei a criar espaço, a escutar a sabedoria do corpo, das emoções e a usar a mente com a sensibilidade de quem reconhece no rosto a brisa do mar, o cheiro da flor ou da terra e o seu frescor…
Não haverá pressa de chegar, galgar, possuir ou conquistar…
O caminho é só o caminhar…
Que possamos aprender a nos cruzar com a mesma delicadeza e sensibilidade da brisa do mar… será o maior reflexo de como decido a casa cuidar…

HarihOm
Sónia A. 


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pensamentos Soltos # 79

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Sê como a flor do jardim que exala o seu perfume naturalmente…
Que permite que as suas pétalas abram de jeito simples, sábio e dentro de uma inteligência maior…
A flor que É e não o grita…
Que aprecia,
Que rejubila silenciosamente!
O brilho e calor dos raios de sol,
A pureza e o frescor das águas frias,
O cheiro e o macio da terra molhada,
Os pássaros que cantam,
As pessoas que se pisam e dançam,
A flor que cuida e se deixa cuidar desinteressadamente…
Que adorna, embeleza, espaçosa e livremente…
Que não possui e tudo contém…
Que não promete e tudo oferece…
Que nasce para ser…
Que cresce para se perder…
E que morre para eternamente viver…

(Sónia Andrade) 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Pensamentos Soltos # 78

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A essência da vida é a todo o momento um fluxo de pura riqueza, beleza…
Posso descansar os meus olhos…
Posso descansar as minhas pernas…
Posso abrir as minhas mãos e largar…
Posso ficar só… deliciosamente protegido, amparado, acolhido, próspero, feliz…
Posso aquietar os medos, confidenciar segredos…
Posso deixar cair o orgulho que sempre estarei seguro…
Posso mandar embora a arrogância que sempre estarei em abundância…
Posso sossegar, apreciar sem ter nada que forçar…
Posso dar conta de mim porque amor não tem fim…
E partindo daqui, poderei adornar-me de ti e de ti…

Silêncio… 

(Sónia Andrade) 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Reflexão # 73 - O Aparente...

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É muito comum olhar para a vida do outro e criar fantasias que nos levam por muitos caminhos. O poder de uma imagem, atitude, posição, cor, som, beleza, ritual, método, conduz a nossa mente numa busca, estimulando desejos profundos que contribuem para o resgate de força, motivação inatos. Por vezes deixamo-nos ficar na superfície do fenómeno, avaliando meras aparências, comparando, competindo, auto julgando-nos de muito inteligentes e especiais ou de pobres criaturas privadas de recursos, oportunidades, beleza, prosperidade, como se o direito à vida alinhado com sonhos, paixões, amor e riqueza apenas estivesse ao alcance dos bem-aventurados, iluminados, que conquistando-se a si, conquistam o mundo.
Se ousarmos investigar o fenómeno em nós, questionando o que uma imagem, aparência, palavra, conteúdo, pessoa, situação, circunstância desperta, surpreender-nos-emos com o tanto que nos habita, escondido, omitido, esquecido, negligenciado e disfarçado por tanta máscara.   
A vida é um grande sonho onde se montam tantos e outros pequenos grandes sonhos. O mundo, pessoas, situações, circunstâncias, imagens inspiradoras, ou não, emprestadas à nossa mente para que faça um caminho, processo, descoberta. Meras passagens cinematográficas capazes de nos falar da humanidade que carregamos, da forma e expressão de um amor, inteligência, sabedoria que nos permite toda esta dinâmica existencial.
Está tudo certo e dentro de uma ordem perfeita, o momento onde estamos, para onde queremos ir, o que vivemos, o que gostaríamos de viver, os obstáculos, as dificuldades, o passado, as dores, as feridas, o perdão e a ausência de perdão, a ignorância, os desejos, as emoções, as fantasias, as paixões, o cansaço, a exaustão.
A vida é um pé no desconhecido, uma melodia infinitamente escutada pela primeira vez, um passo de dança que se aprende a todo o momento. São infinitas as possibilidades, oportunidades, escolhas. Não há o certo ou o errado, o bonito e o feio, o melhor ou pior. Há uma manifestação e expressão permanente do mais belo e amoroso que nos habita e nos impulsiona a contar uma história, que mesmo sendo triste, dramática e munida de um peso extra, é bela, profundamente bela.
Então, que possamos nos conectar a essa inteligência maior, a essa visão mais ampla de nós e seguir fluindo ao ritmo de um devir que nos presenteia a todo o momento com conhecimento e oportunidade de amadurecer.
Que o mundo, pessoas e suas histórias possam servir de espelho, ao invés de um constante e permanente lamento ou até mesmo cobiça. Que possa olhar para além de todas as formas de ver e sentir, permitindo uma liberdade interna para trazer à tona todas as emoções que se queiram manifestar. Nenhuma delas é boa ou má… nenhuma delas de verdade carece de qualquer tipo de máscara, nome, explicação, justificativa… elas são e apenas nos pedem espaço, disponibilidade, amor, carinho, doçura e atenção plena.
HarihOm
Sónia A.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Pensamentos Soltos # 77

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Deus oferece-nos a poltrona da vida para sentar, apreciar e escutar uma bela estória de amor, cujo enredo nos conduz entre uma panóplia de sentimentos, emoções, pensamentos, desejos que ora nos fazem sentir no céu, ora no inferno…

O mundo, pessoas, relações, o espelho perfeito para me contar onde estou, por onde ando, o que é feito de mim, como me tenho falado, tratado, reconhecido…
Se ousar mergulhar profundo saberei como tenho passado tanto tempo escondido, esquecido, maltratando o divino, o sagrado que sou, iludido em aparências, imagens, crenças, conceitos… correndo em busca de falsa e fugaz beleza que maquilhe um senso de carência, incompletude que carrego…

Muitas serão as vezes que vou querer saltar da poltrona, fugir da frente daquele espelho que escâncara a sombra que dentro habita e procurar sofisticados disfarces que melhor possam aliviar tamanha dor e sofrimento…
Mas se firme, quererei estar diante das maiores dificuldades, adversidades…
Do agradável e desagradável, da abundância, da escassez…
Do medo, da angústia, da alegria, da tristeza…
Com um coração aberto, disponível e imensamente amoroso que sorri, ainda que os olhos chorem… 

HarihOm
Sónia A. 

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Reflexão # 72 - Expor-se a uma Tradição de Ensinamento

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Todos nós carregamos uma ferida existencial e sem ela seria inexistente qualquer forma de impulso e irrelevantes as palavras como amor, compaixão, felicidade, libertação, realização, autoconhecimento. O que nos move numa busca é a espécie de inquietação que habita os recônditos dum coração sem forma, espaço ou tempo, que conduz corpo e mente num processo de maturidade, reconhecimento da realidade que sou. Como se caminhassem no meio de um nevoeiro cerrado que lhes impede uma visão mais ampla de si mesmos, impulsionando-os naturalmente a caminhar, querer sair daquela névoa e finalmente encontrar a visão que lhes traz relaxamento, paz, contentamento e aquele “descanso do guerreiro” que cessou a sua luta e busca, abrindo os seus braços para a vida e para a morte.
Este processo é longo e recheado de intempéries, bonança que jamais poderão nos desviar do propósito do caminho, dos passos e do “descanso do guerreiro”. Naturalmente vamos desesperar nas tempestades, sentir dor, desconforto e desejar sair debaixo dela, lutando, fugindo, procurando sobreviver, adiando o contacto com o fenómeno, de peito aberto, destemido, confiante, que me revelará a sua mutabilidade, relatividade, inteligência e propósito maior. Da mesma forma posso distrair-me na bonança, aliviar, compensar carências, fragilidades, alimentar as minhas fantasias e passar o verão a cantar como a cigarra, que se esquece que o Inverno está à porta e se não trabalhar vai morrer de fome…

Quando decidimos expor-nos a um método, a uma tradição milenar estamos a receber uma bênção dos deuses, uma oportunidade de ser o menino que caminha por entre nevoeiro, tempestades, bonança, de mãos dadas com o pai e a mãe, até as suas pernas deixarem de tremer e ficarem fortes, firmes para seguir em frente. A tradição é esse pai e mãe que guiam o seu filho, ensinando-o a ter as rédeas da sua vida, escolhas, decisões, resgatando, alimentando a sua integridade, dignidade. É o pai e a mãe que nutre, ampara no seu amadurecer e que pouco a pouco vai largando a mão do seu menino para que ele caminhe por si só, inteiro, confiante, pleno e feliz.
Nesse processo muitas serão as emoções, sensações. A tradição vem pelas palavras, acções de pessoas, seres que abençoadamente recebem esse papel e que amorosamente dão o seu melhor a desempenhá-lo. Por vezes vamos amá-los, outras odiá-los. Vamos sentir alegria, tristeza, raiva, revolta, medo, ciúme, inveja, amor, compaixão. Vamos iludir-se e desiludir-se. Vamos apaixonar-se e desapaixonar-se. Vamos querer parar, depois terminar, mais tarde continuar e aprender a segurar. O “bicho vai pegar”, a catarse operar mas ainda assim se vai querer ficar, porque é o pai e a mãe que estão a falar, é o pai e a mãe que estão a contar e com todo o seu amor a ensinar…
De toda esta trama, cenário, drama, história, ficará de herança o conhecimento de uma cultura, histórias épicas, rituais, língua, poesias sagradas, mas acima de tudo um individuo que ao entrar em contacto com os arquétipos que carrega dentro de si, consegue ser mestre ao relacionar-se com cada um deles. Um individuo que aprende a ser pai e mãe de si mesmo, descobrindo o infinito amor que o permite.
Que possamos seguir em frente passando adiante tamanha beleza e proeza.
O meu namaskar aos mestres e professores que decidem fazer das suas vidas a representação de um papel tão intimo, puro, inocente e profundo.
Bem hajam.
HarihOm
Sónia A.
  

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Reflexão # 71 - A Dor Cega...

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Cegos de dor, sofrimento, inconscientes de velhos, repetitivos e devoradores padrões mentais, viciados nas garras e delícias do ego, elevaremos as nossas vozes para falar de Deus, Amor como algo que se coloca numa prateleira e se elege, se escolhe, domina, apodera, saciando aparentemente um desejo que na verdade esconde por detrás de si, o verdadeiro e profundo, insaciado pela realização infinita de qualquer um, o desejo por libertação, felicidade eterna.
Por conta dessa ignorância, carregamos às nossas costas o mundo, as pessoas, as relações. Vitimizamo-nos, culpabilizamo-nos, escandalizamo-nos, embrutecemo-nos, pregando a Deus sem o menor senso de verdade, autenticidade, espontaneidade e pureza. Como pode? Como vivemos uma contradição tão gigante que nos afasta, ainda que aparentemente unidos!
Que se faça silêncio.
Que nos afastemos mais para perceber o que nos une.
Que possamos ousar ver a sujeira, poeira que carregamos no coração! Só assim poderei entender que pureza, inocência, amor é a sua condição.
Que possamos escutar com coragem, força e firmeza as vozes perversas, ardilosas, fantasiosas que nos habitam. Não as julguemos de boas ou más. Não as tomemos como verdade absoluta mas como ferramentas que nos conduzem ao encontro real consigo mesmo. Que se enfrente o monstro que nos habita e que se lhe dê um forte e amoroso abraço. Sentemo-nos para conversar. O monstro é uma mera criação que posso desconstruir e transformar.
Que nossas mentes possam ganhar lucidez, capacidade de discernir e os nossos corações destemor, para escutar e sentir.
Desaprendemos tal habilidade, faculdade, dom e talento divino e talvez por isso caímos tão facilmente em armadilhas linguísticas que nos apanham na esquina das nossas emoções, como “os meus amigos de verdade, quem me ama de verdade, quem me valoriza, quem me respeita, quem me, quem me…”. Talvez porque pareça mais fácil, cómodo, confortável. Talvez porque nos alivie e desresponsabilize das nossas ações, decisões. Talvez porque aprove a miséria onde nos encontramos e não queremos sair por medo, desespero ou covardia.
Como podemos credibilizar tal conversa que apenas nutre o nosso senso de carência, dependência, julgamento e separação?
Possamos ficar espertos e despertos...
Possa a nossa dor ser lúcida ao invés de cega...

HarihOm
Sónia A.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Pensamentos Soltos # 76

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Nós somos como aranhas que montam a sua própria teia. Tudo o que nos causa sofrimento é um fio criado que se foi entrelaçando a outro e mais outro, tecendo complexas estruturas que nos trazem senso de proteção e sobrevivência. Quando ousamos investigar a verdade por detrás da teia e todos os tecidos, observaremos o caos montado pelas próprias mãos… ignorância, ingenuidade, crença numa completa loucura desprovida de lógica, verdade, pureza e firmes alicerces. Nenhuma teia, estrutura, fios tecidos estrategicamente, resistem ao primeiro sopro de verdade e força da natureza… tudo questão de tempo para se desmoronar tal qual um castelo de areia…
Verdade é como um furacão, uma força da natureza que passa deixando uma aparente destruição… Mas o que de facto é destruído senão paredes, muros, falsos castelos de dominadores e dominados, de controladores e controlados, de submissos, resignados, de dependentes e independentes, de fortes e fracos, de escravos, reis, rainhas, príncipes e princesas, banquetes, glamour, pobreza, miséria…
Abençoado furacão que dá lugar à renovação…
HarihOm
Sónia A. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Reflexão # 70 - Para onde Vou? ...

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Nascemos puro e inocente amor, dotados da capacidade inata em confiar, entregar-se ao fluxo natural da vida… o mundo que se apresenta externamente, um permanente convite a descobrir-se enquanto ser humano… a interação com o meio envolvente a ferramenta que me conduz ao real propósito de estar aqui numa verdadeira epopeia existencial, sofrendo, ignorando, buscando libertação, desejando felicidade eterna, paz inabalável, que só voltando a reconhecer a inteligência perfeita que me permitiu vir ao mundo, aberto, disponível, puro, inocente, naturalmente amoroso, dotado da capacidade de reconhecer a natureza básica e fundamental que dita os contornos da minha história.
Procurar alimentar-se, nutrir-se do mundo, esperando dele conforto, carinho, reconhecimento, festinhas e coceguinhas na barriga, que consolam, compensam momentaneamente uma dor, é uma sentença de morte ainda que vivo. O mundo que se apresenta externo a mim é um mero reflexo, um espelho que posso usar e abusar para me ver mas que em algum momento vai tornar-se insuficiente para responder à busca mais sincera, profunda e verdadeira que habita os recônditos do coração. Mirar-se, adornar-se diante do espelho vai tornar-se escasso. Os fenómenos da humanidade em mim são infinitos, poderia sentar-me por toda a eternidade só a contemplar, apreciar, rejubilar, dramatizar, sofrer, ignorar, assim este corpo e mente fossem de natureza eterna… Mas, não é o caso. Tem prazo de validade, graças a Deus.
Então, algo precisa ser reconhecido, revelado, escutado… quem pede é um coração inquieto, insatisfeito, sedento de algo que não tem nome ou palavras e que se manifesta no cansaço, no desespero, na insaciabilidade do mundo, pessoas, relações. Algo que os olhos não vêm, os ouvidos não escutam, a boca não fala mas presente, auto-evidente.
Desejarei sentar com a pureza, inocência, confiança de uma criança que não julgando a sua ignorância, dá a mão para que lhe seja apresentada tal realidade.

E assim vai…  

HarihOm
Sónia A.

Pensamentos Soltos # 75

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Quando o mar está agitado e te vez emaranhado no turbilhão da onda que rebenta, sem ver, aflito para respirar e desejoso de sair dali, mais do que saber nadar é importante a atitude de saber esperar, confiar, entregar…
Se decidir espernear, lutar desesperadamente contra a sua força e processo natural de rebentação, morrerei na praia…
A sua natureza é tão inteligente e sofisticada que não há corpo ou mente que a alcance… assim como a natureza das nossas emoções e pensamentos…
O que me traz calma, clareza, discernimento, força interna é o reconhecimento firme dessa realidade fundamental e essencial…
Por medo, posso nunca querer saber como é maravilhoso dar um mergulho no mar…
Por precaução, posso nunca me emaranhar na rebentação de uma onda…
No entanto, sempre estarei sentado na areia da praia a contemplar a sua imensidão sem me relacionar, experienciar e profundamente a desejar. 
E ainda que este corpo e mente aparentemente se mostrem vivos, de verdade estão mortos... a vida que tanto quero preservar é uma miragem da vida que efectivamente gostaria de viver, conhecer e sentir. 
Portanto, mortos por mortos que se aprenda a nadar, se ouse mergulhar e se preciso nas ondas do mar rebolar... 
É para isso que aqui estamos! 
HarihOm

Sónia A.



sábado, 13 de agosto de 2016

Reflexão # 69 - Mamã não quero conversa... só o teu silêncio...


Quando é oferecido a uma criança espaço para ela se revelar, ser, algo muito belo podemos apreciar… a inocência, espontaneidade, pureza, amor e sabedoria na hora de relacionar-se com a ignorância que carrega.
Inteligentemente não a julgará de boa ou má, tampouco quererá removê-la… abalada por um sentimento doloroso apenas desejará vivê-lo exatamente como se apresenta, expressando-o da forma que o seu corpo pede, procurando mecanismos de amparo, nutrição que lhe permite sobreviver…
Pude perceber tal fenómeno quando a minha filha me pediu colo, silêncio, abraço, presença no seu esconderijo secreto, quando experienciava a dor de a sua amiguinha ter indo embora...
Montou o drama, chorou, gritou, esperneou e rejeitou qualquer conversa que justificasse a sua dor… toda a vez que abria a boca ela dizia “ Mamã não quero ouvir nada…só quero ficar contigo em silêncio”…
Foi uma lição para mim e um objecto de reflexão…
Quantas vezes nos colocamos diante da dor dos outros com essa postura de grande conhecedor, querendo transmitir a todo custo fórmulas, métodos, caminhos sem tampouco dar-lhes tempo e espaço para ser aquela criança que deseja viver a sua dor, ignorância pedindo apenas presença, amparo e nutrição?
Sem dar conta apenas estamos a retirar o poder pessoal de cada um, a contribuir para negligenciar a força interior que carrega e para escamotear o como ela anda de mãos dadas com a capacidade de expor vulnerabilidades e fragilidades.
Na verdade, quando nos posicionamos dessa forma, conhecedores de grandes teorias, charadas, orgulhosamente detentores de fórmulas que curam feridas, apenas estamos a enganar-nos mais um pouco e a ignorar a incapacidade de ficar frente a frente com as suas próprias dores, que a bem da verdade não são assim tão diferentes das dos outros, tampouco das crianças.
O que acontece é que somos crianças crescidas que aprenderam a mascarar as suas dores, agonias e a fazer delas objecto de orgulho, arrogância, prepotência, vitimização e tudo mais.
Talvez tenhamos de nos dar oportunidade de caminhar em direcção a essa criança esquecida, perdida e dar-lhe oportunidade de viver todas as suas dores, exactamente como se apresentam… sem julgar de bom ou mau, certo ou errado e aprender a ser a mãe que senta com toda a sua presença e fica silenciosamente amparando, nutrindo.
Sónia A.

HarihOm

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Reflexão # 68 - A Criança Ferida e Abandonada

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Muitas vezes na vida, relações vamos vestir o papel do menino/a ferido/a, abandonado/a, que entre lágrimas e soluços estende a mão pedindo amparo, conforto, ajuda para o aliviar de tanto sufoco.
Quando crianças fazemo-lo espontaneamente e por certo nem sempre será acolhido, atendido e compreendido. No alto da sua ignorância a criança percepciona como algo inadequado e longe de corresponder aos ideais de supostas pessoas fortes e bem resolvidas. A fantasia é montada de tal forma, que crescemos cultivando uma arrogância tão grande, que nos impede de ver como permanecemos a mesma criança vulnerável, ignorante, cheia de potencial divino, sabedoria pura e desacreditada, desvalorizada, maltratada, negligenciada, desencorajada para pedir ajuda e posicionar-se no mundo como deseja no mais íntimo do seu coração.
Se ousarmos investigar com profundidade, objectividade, veremos como nada nem ninguém, efectivamente, nos pode dar a mão e amparar com o amor, entrega, dedicação que tanto almejamos. O máximo que podemos encontrar são seres disponíveis, abertos, conectados com papéis e propósitos, para oferecer, momentaneamente, o que necessitamos. Óbvio que tal precisa ser verbalizado, manifestado, pedido, sob pena de se viver num espaço completamente fantasioso, onde desperdiçamos energia em suposições, imaginações, expectativas e afins.
De verdade cada um está por si e a fazer por si, escamoteando essa realidade entre manipulação, vitimização e as mais diversas formas de um ego que teme uma espécie de “morte”, uma perda de identidade, propriedade, controlo e poder.
Está tudo certo com ele. Apenas desempenha um papel na obra cinematográfica que é a vida humana. No entanto, se não o vislumbrarmos por esse ângulo, ele toma conta de nós, roubando o discernimento, clareza, objectividade para perceber que apenas se vive um filme que logo, logo chega ao fim e que não tem realidade própria.
Então, talvez seja tempo de resgatar essa força interna, essa doçura, inocência, pureza de criança, cultivando uma mente qualificada para reconstruir o papel de pai, de mãe e para estabelecer-se na visão real de quem somos nós.
Harih Om
Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 74

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Tem uma hora que vou precisar de ser o pai que firme, amorosa e discretamente se senta no muro para apreciar o filho a brincar…
Sem interferir permito que explore, viva a brincadeira, aprenda a jogar, a perder, a ganhar…
Permito que dance, que lute, que fique sozinho quando assim o deseja, que converse quando assim o anseie ou que simplesmente repouse nos meus braços, quando assim o necessite…
Muitas serão as vezes que o vou ver cair, chorar, desesperar, contorcer de dor…
Muitas serão as vezes que o vou ver sorrir, gargalhar, extasiado de alegria…
Vou amparar, compartilhar, permanecer e de mansinho, sentá-lo no meu colo para contar-lhe os segredos que abrem o tesouro divino que carrega no seu coração…
Confidenciar-lhe-ei que a chave está consigo, pertinho das suas mãos… que não precisa distrair-se entre jogos, brincadeiras, fantasias e magias para a obter…
Passar-lhe-ei as minhas mãos quentes pela cabeça, pelo rosto e olho no olho, com segurança e confiança direi “Vai lá meu filho, esta missão é tua! Estamos juntos!”

Sónia A. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Pensamentos Soltos # 73


 Saberei que me olho nos olhos, procurando a minha mão, quando uma voz silenciosa, quente e doce sussurra no coração:

 “Gratidão!
Por não amares do jeito que fantasio…
Por não atenderes do jeito que imagino…
Pelo tempo, pelo espaço, pelo cansaço…
E por nem sempre me ofereceres o regaço…
Pelo silêncio que não ignora…
Pela distância que não incomoda…
Pela ausência que corrobora…
E a presença que elabora…” 

Sónia Andrade.

sábado, 23 de julho de 2016

Reflexão # 67 - Quando as Crianças nos Contam aquela História...


Hoje observava a tristeza, raiva da filha por não lhe ser concretizado o desejo de trazer os amigos até à sua casa. Na sua espontaneidade e ignorância xingava a mãe, a sua condição de filha única e gritava como era injusto, como os adultos eram chatos, como não sabiam brincar como as crianças.
Permanecendo em silêncio, deixando acontecer a catarse, podia sentir no meu coração uma espécie de empatia com aquela dor e com uma espécie de obstinação em arranjar formas e estratégias de conseguir o que tanto estava a desejar…
Como se mostrou infrutífero a criança decidiu aproximar-se e pedir a conversa. Perguntou, “porquê mamã? É duro…”
Refletindo sobre este episódio questionei, como podemos exigir de uma criança um comportamento face às suas chamadas “birras” se nós, adultos, as fazemos por detrás de tantas formas aparentemente maduras? Como podemos apontar o dedo a uma criança e dizer-lhe “ tu não me voltas a chamar isso” sem a capacidade de nos voltarmos para dentro e reeducar o nosso diálogo interno? Como posso resolver as situações à base da autoridade e palmadas, sem entender que é isso, exactamente, que faço a mim mesma?
A tolerância, espaço, tempo, compaixão e amor que se oferece espontaneamente a uma criança, é a mesma que oferecemos, genuinamente, a nós mesmos.   
Então, talvez ela seja um belo espelho da forma como tratamos e aprendemos a se relacionar com a criança que um dia já fomos…
Como ela sofre em silêncio, como se sente incompreendida, avassalada por um turbilhão de emoções que não entende, dá conta sequer… como nos preocupamos mais em ensinar padrões do que ensinar a amar-se, cuidar-se, acolher-se, conduzir-se na sua humanidade, fragilidade, vulnerabilidade. Como nos colocamos na cilada mental de educar, super e especiais pessoas aparentemente fortes, seguras, com auto estima, afastando-as do terreno fértil onde efectivamente tudo isso ocorre?
Que se aprenda a olhar nos olhos de uma criança e com toda a humildade se confesse como gostaríamos que fosse diferente, como tentamos fazer o melhor que sabemos e podemos ainda que fique tão aquém. Que se manifeste o desejo de dar amor e como ele consegue ser tão distorcido. Que se abrace e se silencie mais. Que se escute além das palavras. Que se permaneça discreto, firme, disponível para o “melhor e o pior”. Que se atenda sem interesse de alimentar e saciar as suas próprias frustrações… isso pesa, sufoca, prende a corrida livre das pernas, as asas livres do voo…
Que se aprenda, perdoar a si mesmo…
Que se aprenda, valorizar a si mesmo…
Que se resgate o poder pessoal, a dignidade, o respeito por si mesmo…
Que se aprenda a reconhecer o caminho em direcção à fonte da força interior que carregamos…
Como remamos contra a maré… como padecemos de ignorância, arrogância, pretensão e orgulho! Como chegamos, inclusive, a ser um tanto ridículos, ingénuos.
Tudo bem… mas pelo menos que se faça dessa realidade um utensílio para cavar as ervas daninhas, que impedem as belas e cheirosas flores brotarem no imenso jardim que nos habita!  
HarihOm

Sónia

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Reflexão # 66 - Estender um tapete e praticar yoga?

imagem retirada da internet 

O corpo é um instrumento sagrado oferecido nas nossas mãos para experienciar esta aventura humana e através dela beber o conhecimento, sabedoria que não só a transcende, como a ilumina de sentido, propósito, amor puro, real e inocente.

Quando estendemos um tapete e nos colocamos num movimento sincronizado, devemos aprimorar a mente no reconhecimento de uma sensibilidade, atenção, presença que lhe permita saborear e apreciar a inteligência, vida dos aspectos mais subtis que compõe um corpo grosso. Na verdade, ele apenas é o produto disso mesmo… o que é efectivamente um peito fechado, pescoço, ombros tensos, rigidez e outras tantas enfermidades senão couraças emocionais, padrões mentais que se arrastam ao longo dos tempos? E como posso de facto ajudar alguém a entrar em contacto com essa realidade e contribuir para que façam algo por si mesmas? 

A força aliada a uma intelectualização das posturas físicas, certamente que não. Pessoas precisam de um fogo amoroso e gentil que pouco a pouco esquentem um corpo gelado e o derretam de forma a se descobrir dança, poesia, beleza e inteligência pura...

Como aprendemos a nos maltratar! Como usamos e abusamos dele enquanto permanece compassivo com cada atrocidade! Talvez seja hora de ampliar a nossa visão relativamente a ele, oferecer-lhe o melhor de nós e descobrir os prazeres mais profundos, intensos, valiosos e inesquecíveis que guarda nos seus recônditos! 

HarihOm
Sónia.  

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Reflexão # 65 - Tradição de Ensinamento? Para quê? Em nome do quê?

imagem retirada da internet

Vivemos um constante e permanente pedido de socorro que ao longo dos tempos vai assumindo as mais diversas formas, refinando-se, direccionando-se, organizando-se no tempo. Se nos atentarmos, manipulados pelas próprias necessidades humanas contidas na panóplia de emoções e sentimentos que nos impulsionam no mundo dual de aparentes criações, destruições, bondades, maldades, tristezas e alegrias, uniões, separações e por aí vai.
Na verdade o que todos procuramos, por si só e em si só, é o encontro com a nossa realidade inteira, plena, feliz e livre que cessa o natural e essencial desejo por realização e plenitude. Essa necessidade é intrínseca ao ser humano, fundamental portanto e a razão da sua existência e propósito de vida.  
É facto que podemos vivê-la esquecidos, assumindo uma espécie de amnésia aparentemente conveniente, confortável, dopados pelas mais diversas pílulas instantâneas que o mundo externo oferece, mas jamais conscientes de quem somos com verdade e realidade.
Quando num rasgo de lucidez a mente reconhece como percepciona o mundo, pessoas, vida, existência, propósitos de forma tão frágil, superficial, limitada, condicionada e equivocada, vai querer munir-se de ferramentas que a ajudem numa espécie de reeducação, reestruturação e reorganização que lhe permitam não só o vislumbre do que é sempre presente, eterno, imutável, como a habilidade para se relacionar com isso. Como se houvesse a necessidade de se restabelecer para se estabelecer numa visão sobre e além de si mesma.
Quando decidimos procurar ajuda perto de uma tradição de ensinamento, guru, mestre, terapias, estamos num natural pedido de socorro que nos será concebido dentro de uma inteligência maior e nas doses apropriadas para cada um. Quando o paciente reconhece a possibilidade de cura a todo o momento vai desejar acelerar o processo, controlar, dominar… vai querer saber todos os procedimentos, dominá-los na perfeição, apropriar-se… vai querer estar junto dos “médicos da selva”, da comunidade que os acompanha e assiste, de expor-se, doar-se com a mesma inocência, pureza, curiosidade, interesse de uma criança. Este é uma espécie de nível 3 do vídeo game onde aprimoramos as qualidades para poder receber a “cura” e onde sublimamos os ímpetos que nos conduzem a uma espécie de desespero, ansiedade que encobrem e comprometem os nossos olhos lúcidos, o nosso coração amoroso e compassivo e a sincronia do nosso corpo na perfeita melodia que toca para nós…
Desejaremos apreciar toda essa dinâmica, envolver-se no drama, assumir os personagens, caracterizar o cenário, abrir o pano, apresentar ao público para quando o pano voltar a fechar reconhecer que nada existe de verdade… pedido de socorro, médico da selva, assistentes, cura, e que tudo é montado apenas e só para poder apreciar a graciosidade, sacralidade e beleza da realidade que sustenta a possibilidade de contar uma história…
HarihOm
Sónia A.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Reflexão # 64 - Olhar-se como um rio...


Para fugir ao encontro mais profundo com nós mesmos, criamos incessantemente mascaras atrás de mascaras…
A mascara do intelectual, do engraçado, sarcástico, do guru, do espiritual, do forte e seguro, do rebelde e audaz, do humilde e generoso e por aí vai num sem fim…
Ingenuamente, ficamos reféns de estética, saúde perfeita, corpo alinhado, musculado, conhecimento, experiências, aventuras, desejos e da própria vida, sem tampouco dar-se espaço para vislumbrar a beleza de ser um rio que percorre o seu caudal num ritmo e movimento únicos.
Muito é o lixo que nele se acumula impedindo-o de fluir livremente e a sua remoção é precisa e supra inteligente. Podemos nos entusiasmar, iludir e querer fazê-lo à força, sob o controle da mente…
Mas… não adianta… é só mais um tanto de entulho…
A vontade de querer servir a si mesmo e com o propósito que merece, carece de uma atitude despretensiosa que nasce, não na cabeça mas no coração…
E assim sendo, estarei como um mero espectador que contempla a beleza de tal movimento… o lixo, os obstáculos, as dificuldades, dores, traumas, mascaras, apenas instrumentos que sublimam um corpo e uma mente, iluminando-os de um amor além de qualquer aparência, acção ou inacção, palavras…
Não quererei subir ao trono atravessando pontes que me afastam desse rio…
Vou querer descalçar-me, banhar-me e sem resistências permitir que me conduza…

HarihOm

Sónia A. 

Pensamentos Soltos # 72


 imagem retirada da internet 

Carregamos uma ferida aberta dentro de nós e por ignorância tendemos a soprar toda a vez que arde… no entanto, ainda que possamos sentir um alívio, ele é momentâneo…
Minimizamos os cuidados a ter com ela, negligenciamos, maltratamos e auto convence-mo-nos que logo, logo vai passar…
Continuará ativa até que a nossa atenção se volte para ela e com todo o cuidado, propósito, sabedoria, conhecimento, resolvamos curar…
A intervenção é precisa, minuciosa e delicada…

                                                                    (Sónia Andrade)

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Pensamentos Soltos # 71

imagem retirada da internet 

Crescemos tão focados nas aparências externas que tendemos, no alto do pedestal, dizer como é triste, sofrida e lamacenta a vida de fulano, sicrano, ou então, no alto da auto-piedade, dizer como a vida dos outros é bem melhor que a minha… que calvário, pouca sorte ou triste sina… ou ainda, no alto da pretensão, ignorância e ilusão, dizer como a vida me sorri, me transborda de tudo o que quero, preciso, desejo…
Conversas são infinitas, assim como o julgamento baseado na plasticidade de uma aparência…
O olho da mente é míope, o seu corpo está intoxicado e precisa de sérios cuidados…
Caminhamos no meio de lodo e lama, segurando as pernas, posicionando os pés estrategicamente para não sujar as roupas, o rosto, saltitando de poça em poça, temendo cair, mergulhar, com tudo, naquela sujidade…
Na verdade, energia desperdiçada, mal conduzida e aplicada…
Possa ela servir para que destemida e nua mergulhe no lamaçal, no lodo… e que de lá possa brotar uma pura, intocável flor que dê sentido e propósito àquilo que tanto me protegi e fugi…
A flor de lótus, pura, bela nasce do lodo que dá sentido à sua existência…
Então, que do nosso coração brote a coragem e a força precisa para cair na lama. E que de lá, com toda a delicadeza, brote uma pura e bela flor que ilumine a nossa mente e todo o movimento que é a vida.      
Harih Om
Sónia A.